segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O LEITOR (VII) – A Pontuação

Escrevíamos, na última edição, que um dos aspectos mais importantes a cuidar, na proclamação da Palavra de Deus, é a pontuação. Esta marca o ritmo, os silêncios, as pausas no decurso da leitura, que, por sua vez, permitem a compreensão e dão sentido às diversas frases que constituem o texto proclamado.

Pode o leitor pronunciar bem cada uma das palavras, mas se não “organizar” bem as palavras na frase, dando mais ênfase a umas do que outras, se  não articular as frases entre si, o texto tornar-se-á incompreensível. Para que isto não suceda, é fundamental executar correctamente a pontuação: vírgulas, ponto e vírgula, ponto final, ponto de exclamação, de interrogação, bem como o estilo e carácter do texto: crónica, exortação, louvor…

É necessário, portanto, numa vírgula e, regra geral, no ponto e vírgula fazer-se uma pausa breve; num ponto final uma pausa mais longa; numa exclamação exclamar, admirar, louvar…o que implica uma leitura antecipada do texto; numa interrogação, que se ouça, de facto, que há uma interrogação que, nalguns casos pode ser afirmativa.

Dois exemplos: «Voltaram os setenta e dois discípulos, (pausa breve) cheios de alegria. (pausa longa)» (Lc 10,17). Fazendo mal as pausas, pode ler-se o que o texto não quer transmitir: «voltaram os setenta, e dois discípulos cheios de alegria», significa que só dois vinham alegres, o que não corresponde à verdade do texto, pois todos os 72 estavam alegres.

Também na 2ª leitura da Solenidade do Corpo de Deus, lida recentemente, a pontuação bem feita é fundamental: «Não é o pão que nós partimos a comunhão com o Corpo de Cristo?» (1Cor 10,16). A interrogação, neste caso, é mais afirmativa que interrogativa. Se em vez da interrogação fazemos um ponto final, ou uma vírgula, afirmamos precisamente o contrário do que o texto significa: que o pão que partimos não é a comunhão com o Corpo de Cristo…E S. Paulo queria dizer o contrário: que o pão que partimos é comunhão! As mesmas palavras, pontuação diferente, sentido oposto.

Muitos outros exemplos poderiam ser indicados. É fundamental, não no momento, mas antes, ler sempre o texto e entendê-lo. Se o leitor não compreende o que lê, dificilmente a assembleia perceberá.

Claro que, além das pontuações referidas, que determinam as pausas, entoações e modulações da voz, devem ter-se em conta algumas pausas mais longas: após o enunciado da leitura: «Leitura da Primeira Epístola…aos Gálatas» (pausa longa); ou: «meus irmãos» (pausa longa), ainda que conste uma vírgula e não um ponto final, bem como no final, antes de proclamar «Palavra de Senhor».

Uma sugestão: Se pegar no Leccionário e, ao acaso, ler algumas leituras, olhando bem os diversos tipos de pontuação, executar de forma correcta e depois incorrecta, o leitor confirmará o que acabámos de frisar.

Juntamente com a pontuação, fundamental para uma boa compreensão do texto, é igualmente importante saber frasear. Será o tema do próximo número.

                                                                                                                     FP

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