segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O LEITOR (IV) – mediador e não protagonista

Se normalmente cuidamos a maneira de transmitir as nossas palavras e mensagens humanas, com mais afinco devemos aperfeiçoar a maneira de comunicar aos outros a Palavra de Deus, enunciada nas leituras da Eucaristia.

O leitor, mais que “ler” pura e simplesmente, tem como missão “proclamar”, com o máximo de expressividade, a Palavra. Proclamar é pronunciar, promulgar diante de uma assembleia que escuta. Não é uma simples leitura pessoal, busca de informação ou explicação, mas um ministério (serviço) à assembleia celebrante.

O simples facto de ler em público para uma comunidade celebrante é, por si mesmo, um acto de culto, um serviço litúrgico, realizado com fé, por quem tem fé. Assim, uma das condições requeridas a um bom leitor é que tenha a convicção de que, no seu desempenho, ele é simplesmente – e nada mais! – um mediador entre Deus, que por ele dirige a sua Palavra, e a comunidade cristã, que a escuta e faz sua.

A palavra que o leitor transmite aos irmãos não é palavra sua, nem sequer da Igreja, mas de Deus. Ele não lê em função de si, só para si, mas executa, da parte de Deus e enviado por Ele, um serviço à comunidade. Por sua vez, Deus, comunica-se, agora, não através de revelações e de anjos, mas pelo ministério concreto de pessoas concretas: os leitores. Por meio delas a palavra faz-se realidade viva e a mensagem encarna.

O que está escrito nos livros, ainda que sejam sagrados, como é o caso das leituras bíblicas, é “letra impressa” que terá vida através da voz do que lê, da sua atitude comunicativa. Só assim o que está escrito se converte em acontecimento vivo, em Palavra de Salvação.

O leitor é como que o último elo de uma comprida cadeia de transmissão. Os profetas, os apóstolos falaram há séculos, as suas palavras foram escritas nos livros bíblicos, em seguida traduzidas, depois preparadas para as celebrações e agora é um leitor concreto quem as proclama numa determinada comunidade.

Contudo, por mais belos que sejam os escritos de Isaías, de S. Paulo, de S. João… se o leitor não os comunica com expressão, se o microfone não funciona, se há ruídos, será difícil estabelecer um diálogo vivente entre Deus e a assembleia.

Deus, normalmente, não actua nem se comunica por meio de milagres, mas serve-se da mediação humana, neste caso, de um leitor. É neste sentido que reafirmamos o que dá título a esta crónica: o leitor é Mediador e não Protagonista.

                                                                                                                                F.P.

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